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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Borboletas e Mariposas


Nosso país possui um vasto território com uma grande biodiversidade. Possuímos mais de 3 mil espécies de borboletas e mais de 23 mil espécies de mariposas. Mas esses insetos dependem da fonte de alimentos fornecido pela flora, e a devastação das florestas também acarreta a extinção de muitas dessas espécies que são grandes polinizadoras. 


Nossas florestas tem grande importância para os insetos também


Nas regiões quentes próximas a linha do Equador, na América Central e do Sul, encontram-se o maior número de variedade de borboletas com cores exuberantes. Muitas tem cores que as camuflam na vegetação, como ocelos, caudas alongadas e escamas venenosas para confundir os predadores.


Como diferenciar borboletas de mariposas?



Normalmente as borboletas são diurnas e as mariposas são noturnas. As borboletas quando em repouso deixam suas asas elevadas, enquanto que as mariposas ficam com suas asas abertas. As antenas das borboletas são fininhas com a ponta bifurcada, as mariposas possuem antenas semelhantes a penas, com cerdas sensoriais que captam os feromônios do sexo oposto. 

Como são muito dependentes das florestas e campos as borboletas e mariposas são muito sensíveis as  mudanças ambientais, muitas espécies estão ameaçadas e outras extintas.
 Borboletas e mariposas são insetos da ordem dos lepidópteros. Esses insetos são muito antigos, as primeiras mariposas  viveram cerca de 140 milhões de anos, enquanto que as borboletas, mais jovens, datam de   40 milhões de anos.


Pode-se dizer que as mariposas são borboletas noturnas, conforme seu nome em alemão, nachtschmetterlinge. A maioria delas tem sua vida ativa à noite, porém muitas voam de dia.



Elas possuem dois pares de asas com cores e formas variadas. Borboletas e mariposas são recobertas por escamas. Essas escamas formam os padrões de desenhos das asas. Na cabeça possuem duas antenas, órgãos sensores usados para sentir os cheiros e uma tromba enrolada usada para alimentar-se. Seus olhos são lentes ou facetas. Essas lentes são sensiveis a movimentos e cores. O tórax é dividido em três segmentos unidos aos dois pares de asas e os três pares de pernas segmentadas.



Borboletas e mariposas são agentes de polinização, pois alimentam-se de néctar de flores,  porém algumas mariposas não se alimentam no estágio de vida adulta, vivendo apenas da comida armazenada no estágio de larva.

Ciclo de vida

Borboletas e mariposas possuem um ciclo de vida semelhante: ovo, lagarta, pupa e adulto.



Os ovos são dispersados em locais propícios a sobrevivência da espécie, quando amadurecem, eclodem pequenas lagartas. As lagartas crescem rapidamente, às vezes imperceptíveis por baixo das folhas ou nas nervuras, alimentam-se de folhas, mas algumas comem pulgões.


 No estágio de pupa a lagarta fica mais escura, ela fia uma base numa planta, onde prende seus ganchos traseiros, ficando de cabeça para baixo quando perde a pele deixando livre a crisálida. 

A crisálida não tem antenas ou pernas, começa o desenvolvimento extraordinário da metamorfose de uma lagarta para uma borboleta. 

O adulto surge depois de um processo que envolvem muita energia devido  as mudanças internas. As asas secam e endurecem possibilitando que  a borboleta saia voando, muitas vezes já acasalam após a metamorfose.

Os adultos podem viver de uma semana a um ano, dependendo da espécie.
 Borboletas e mariposas passam por esse processo.


Suas cores fortes são para atrair parceiros. Borboletas masculinas produzem perfumes poderosos para atrair as parceiras, secretam feromônios. Entre as mariposas, são as fêmea que produzem o feromônio. O casal troca carinho com as antenas, o acasalamento, normalmente sobre uma folha, de cauda com cauda pode durar até 20 minutos. Depois a fêmea deposita em torno de 1000 ovos na planta escolhida, muitas vezes a mesma que a alimentou, na folha ou galho e o macho sai a procura de outra fêmea para acasalar.
Os órgãos reprodutores e a maior parte do sistema digestivo encontram-se na extremidade do abdome.

No nosso estado os dados sobre a fauna de lepidópteros é muito incompleta, segundo o Laboratório de Ecologia de Insetos da UFRGS, a grande maioria de suas espécies ainda não foi classificada, por isso é importante conhecer essa diversidade para poder preservar. Nesse laboratório existem 7 mil exemplares catalogados em mais de 20 anos de pesquisa, favorecendo estudos futuros. 



Borboleta Maria-boba  Heliconius ethilla narcaea

Borboleta Coruja:

Borboletas coruja pertencem ao gênero Caligo. Borboletas típicas da América do Sul, com hábitos noturnos. Essas borboletas podem viver em torno de 3 meses. Suas asas na parte interna assemelham-se a face de uma coruja. Externamente suas asas são azuis e preto. ela é muito grande, podendo atingir 18 cm.


 Caligo martia  -Camuflagem para evitar os predadores que se afastam ao observar esses grandes olhos, parecendo uma coruja.
Caligo martia - Parte externa do corpo 
Borboleta 88:


Diaethira clymena, popularmente conhecida como borboleta 88, leva esse nome devido as marcas semelhantes ao número 88 na parte de baixo, na parte de cima das asas suas cores são preta e azul.


Mariposa-olho-de-pavão:

Automeris illustris - Mariposa olho-de-pavão-alaranjado, sua larva é conhecida como taturana. Os adultos não se alimentam, vivem pouco tempo.

Fotos: Vera E. Medeiros -  Tiradas no interior de Ana Rech,  Caxias do Sul, RS



sábado, 20 de fevereiro de 2016

RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural


O que é uma RPPN?
A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma reserva particular criada pela vontade do proprietário que queira preservar remanescentes naturais de sua propriedade, tendo seu direito de propriedade preservado.

Qual a sua origem?
Essas reservas foram criadas com o objetivo de proteger de forma perpetua, os recursos hídricos, fauna e flora, enfim, os recursos naturais de propriedades particulares.
O Código Florestal de 1934 já previa essas áreas, chamadas de florestas protetoras. Em 1977 foi criado os Refúgios Particulares de Animais Nativos pelo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal- portaria nº 327/77). Em 1988 foi instituído uma portaria criando as Reservas Particulares de Fauna e Flora (portaria 217/88). O decreto de 1990 (decreto 98.914) veio de encontro a necessidade de regulamentar essas áreas, criando as RPPNs, que em 1996 foi substituído pelo decreto 1.922/1996. 
A importância dessas unidades particulares cresceu muito no país. Em 2000 foi criada a Lei do SNUC que instituiu o Sistema Nacional de Unidade de Conservação (Lei nº 9.985) e as reservas particulares passaram a ser uma das categorias de unidade de conservação. Em 2006 o Governo Federal publicou o Decreto nº 5.746 em 5 de abril de 2006, regulamentando  essa categoria de unidade de conservação.
Além do governo federal, muitos estados e municípios também regulamentam a criação dessas reservas atualmente, com leis específicas.
Incentivo às RPPNs:

A Fundação SOS Mata Atlântica criou um programa de incentivo às reservas particulares da Mata Atlântica em 2003, junto com a Conservação Internacional (CI). Os principais benefícios de se criar uma reserva é de proteger diversas espécies ameaçadas, com a possibilidade de explorar e desenvolver atividades de ecoturismo e educação ambiental, a partir do plano de manejo. Outro benefício é a isenção do ITR, o Imposto Territorial Rural, com possibilidades de apoio dos órgãos governamentais para fiscalização e proteção da área de conservação.
As reservas de âmbito federal devem ser requeridas ao órgão ICMBio, (Instituto Chico Mendes) que é responsável pela criação e fiscalização das unidades de conservação no nosso país. Mas pode-se solicitar às secretarias do meio ambiente municipal ou estadual também.
Atualmente já foram criadas  mais de 1.055 RPPNs no Brasil, segundo dados do SOS Mata Atlântica. Essa entidade,  através do Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica, já apoiou mais de 469 reservas. 

No Rio Grande do Sul:

No RS temos RPPNs em diversas cidades como: Barra do Ribeiro, Canela, Caxias do Sul, Dom Pedrito, Dom Pedro de Alcântara, Encruzilhada do Sul, Gramado, Humaitá, Mariana Pimentel, Passo Fundo, Pedro Osório, Pelotas, Piratini, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Vitória do Palmar, São Borja, São Francisco de Assis, São Francisco de Paula, São Luiz Gonzaga, Sapucaia do Sul, Taquaruçu do Sul, Torres, Venâncio Aires e Viamão, com áreas de 1, 5 ha até 340 ha.
As fotos abaixo são da RPPN Santa Bárbara em Caxias do Sul:
Gralha-azul, importante dispersora sementes da araucária

 Xaxim, protegido por lei
Arroio Santa Bárbara 
 filhote de bugio-ruivo

Para saber mais:

Legislação Federal:

Fotografias: Vera E. Medeiros

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Bugiu espécie em risco de extinção

Nome popular: bugio-ruivo
Nome científico: Alouatta guariba
Família: Atelidae
Gênero: Alouatta
 Fotos tiradas da janela de uma moradia em Santa Barbara de Ana Rech, de manhã cedinho, próximo a RPPN Santa Bárbara.

Infelizmente são poucas as iniciativas para proteção da vida dos bugios


Na nossa região os bugios são encontrados nas matas de araucária. Vivem em bandos de aproximadamente 10 indivíduos, sob o comando de um macho adulto. Locomovem-se com o auxílio de sua cauda. Como alimenta-se basicamente de folhas de árvores, pobre em calorias, passam muito tempo em repouso. Alimentam-se também de frutas, brotos, pinhões, lianas (cipós) e flores. Eles podem viver até 20 anos, porém estão entrando em processo de extinção devido principalmente a destruição de seu habitat. Aqui em Caxias do Sul presenciamos isso a olhos vistos, o desmatamento é escancarado, sem o menor respeito a vida dos animais silvestres, que dependem das matas para sua sobrevivência.

Muitas vezes ouvimos o ronco do bugio, ouvido há grandes distâncias,  essa capacidade deve-se ao osso hióide, de grande volume nos machos, funcionando como uma caixa de ressonância, assim sua vocalização pode ser ouvida há muitos quilômetros de distância.

Bugius preparando-se para dormir, muitas vezes ao som alto de músicas, principalmente nos fins de semana devido a vida urbana crescendo com os loteamentos clandestinos



    Os bugius necessitam da preservação das araucárias para sua sobrevivência



As paisagens naturais estão sendo fragmentadas, prejudicando várias espécies de animais silvestres, dentre elas o bugiu-ruivo.


Foto tirada num sábado a tardinha, numa área da Reserva Particular do Patrimônio Natural, RPPN Santa Bárbara, o som de fundo não era da floresta, mas de músicas dum bar próximo.

As reservas particulares, RPPN, são unidades de conservação particular, criada voluntariamente pelo proprietário com consciência ecológica,fixando uma área de reserva que não pode ser tocada. Felizmente esse tipo de inciativa vem crescendo.


Nos arredores e interior de Ana Rech vemos muitos grupos de bugius se aproximarem das casas. Os mais velhos ficam vigiando no alto das árvores, enquanto os mais novos chegam nas árvores próximas às casas, onde se alimentam de folhas de determinadas árvores, como o camboatá-branco e a mamica-de-cadela. Já vimos uma família inteira alimentando-se de frutinhas da árvore exótica uva-do-japão. Aqui na região acredita-se que os bugius não descem ao solo, que seguem pelas copas das árvores, por isso estão sendo muito prejudicados com a fragmentação da floresta, pois estão tendo que aprender a descer ao solo, atravessar estradas, enfrentar perigos na busca por alimento e sobrevivência.

Todos os empreendimentos humanos deveriam seguir critérios ditados pela ciência em relação a preservação dos recursos naturais. As políticas públicas deveriam favorecer o uso sustentável, a conservação e recuperação das nossas matas. De certa maneira, pelo menos na teoria busca-se isso. Sabemos que lideranças de todo o mundo se encontram para acordarem a diminuição do processo de degradação do planeta.

Nossa cidade está dentro da floresta ombrófila mista, parte do bioma Mata Atlântica. O crescimento urbano intenso de Caxias está ajudando a destruir mais um pouco dos 8% de Mata Atlântica que ainda restam no Brasil. Cientistas alertam que em menos de 50 anos esse bioma vai desaparecer, pois a devastação não para, continua acelerada.

Caxias do Sul possui o Plano Municipal da Mata Atlântica em estudo desde 2012, com o objetivo de “ promover aprendizagens sobre a viabilidade de novos modelos de preservação, conservação e utilização racional dos recursos naturais da Mata Atlântica (...)” PMMA volume I.

 Criou-se um corredor ecológico da Mata Atlântica, mas na prática o que vemos não é a conservação ou a recuperação desse bioma. O desmatamento gigantesco que está acontecendo em Ana Rech, em pleno século XXI, ano de 2016 é espantoso, muita gente se questiona de como a Secretaria do Meio Ambiente autorizou à grandes empresas de loteamento, esses desmatamentos, envolvendo árvores nativas, bem como as araucárias, protegida por lei! Muitos colonos daqui não conseguem autorização para cortar um pinheiro sequer, sabemos de pessoas que querem construir mas se vão pelo caminho da legalidade não conseguem autorização para o corte das árvores.
Visões na entrada de Ana Rech
Moradores das proximidades contam de animais silvestres perdidos a procura de abrigos

Triste paisagem

Sabemos que essa desgraça e descaso com o meio ambiente não é uma característica  só de Caxias do Sul, mas de todo o país. Penso nos alertas  dos cientistas a cerca das emissões, dos desmatamentos, no trabalho de conscientização que fazemos nas escolas e nas iniciativas de preservação. Há muito esclarecimento sobre o prejuízo da degradação ambiental, ameaçando a própria extinção da espécie humana, mas a história vai se repetindo, uma história iniciada lá no descobrimento. Esses empreendedores que constroem espaços para se morar, não tem consciência da grande diversidade de espécies que perdem seu habitat natural, mas que tem direito à vida tanto quanto nós.



Plano Municipal da Mata Atlântica volume I e II:


Fotografias: Vera E. Medeiros