À espera.
Manhã fria, como
sempre. Passarinhos acordando, saindo do ninho em busca de comida.
Alvorecer. Cada minuto de espera parece uma eternidade. Destino:
esperando a van que leva os professores para a escola municipal de
Santa Lucia, distante uns 40 km.
O sol ainda estava
levantando, e, como sempre nesses meses frios, sonolento, preguiçoso, deixando a neblina e
névoa ocuparem um pouco mais do seu espaço.
Nessas horas aprendi
que uma revista na mão faz a diferença, encurta os minutos e nos
leva a outros horizontes. Os poucos trabalhadores matutinos,
resignados, se entrecruzam com cumprimentos solidários. Cumprimentos
entre desconhecidos somente são aceitos sob os ares do orvalho,
depois que o sol desponta os estranhos voltam a se ignorar, é nesse
momento mágico que há uma velada irmandade!
Desde que recebi um
pacote de revistas “Terra da Gente”, fiz delas minhas companheiras matinai. Apaixonei-me pelos artigos sobre o mundo natural,
com cheiro de terra, de oxigênio puro, de flora, de fauna: Avifauna
do Pantanal, primatas do mundo, vida selvagem no Alasca, Mata
Atlântica... um mundo nativo pedindo arrego para 7 bilhões de
pessoas que o encurralam cada vez mais. Nesses momentos nem sempre
cumprimento os transeuntes desconhecidos. Pois bem, estava nesse
mergulho quando ouço a pouca distância:
- - Ma (mas) o que tu lê tanto guria?
- Uma voz com sotaque de dialeto italiano misturado com sotaque, de gaúcho da capital, parecia me conhecer há tempos. Levanto os olhos e não percebo ninguém conhecido. Uma senhora de certa idade,vem ao meu encontro, eu sorrio sem jeito:
- Uma voz com sotaque de dialeto italiano misturado com sotaque, de gaúcho da capital, parecia me conhecer há tempos. Levanto os olhos e não percebo ninguém conhecido. Uma senhora de certa idade,vem ao meu encontro, eu sorrio sem jeito:
- - Estou lendo uma revista, gosto de ler!
- - Ma (ma) todo o dia! - pergunta ela sorrindo com aquela pitada de
dialetos!
Procurei me defender, me senti inibida por estar cometendo tamanha, disse-lhe que as revistas eram emprestadas, que precisava
lê-las logo para devolver. Ela sorria e arrematei contando que sou
professora e que gosto de me interar dos assuntos.
- - Ma, é sobre novela?
Agora o pecado era maior, não eram fofocas de novelas! Disfarcei,
quis esconder a capa, mas não teve jeito, ela espiou e viu:
- - É, é sobre a natureza, os animais, eu gosto de ler! - me
desculpei de novo!
Ela me olhou com os olhos apertados, olhei para o final da rua. Respirei aliviada, a van estava chegando! Estava salva!
Ela me olhou com os olhos apertados, olhei para o final da rua. Respirei aliviada, a van estava chegando! Estava salva!