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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Momento inusitado



À espera.
Manhã fria, como sempre. Passarinhos acordando, saindo do ninho em busca de comida. Alvorecer. Cada minuto de espera parece uma eternidade. Destino: esperando a van que leva os professores para a escola municipal de Santa Lucia, distante uns 40 km.
O sol ainda estava levantando, e, como sempre nesses meses frios, sonolento, preguiçoso, deixando a neblina e névoa ocuparem um pouco mais do seu espaço.
Nessas horas aprendi que uma revista na mão faz a diferença, encurta os minutos e nos leva a outros horizontes. Os poucos trabalhadores matutinos, resignados, se entrecruzam com cumprimentos solidários. Cumprimentos entre desconhecidos somente são aceitos sob os ares do orvalho, depois que o sol desponta os estranhos voltam a se ignorar, é nesse momento mágico que há uma velada irmandade!
Desde que recebi um pacote de revistas “Terra da Gente”, fiz delas minhas companheiras  matinai. Apaixonei-me pelos artigos sobre o mundo natural, com cheiro de terra, de oxigênio puro, de flora, de fauna: Avifauna do Pantanal, primatas do mundo, vida selvagem no Alasca, Mata Atlântica... um mundo nativo pedindo arrego para 7 bilhões de pessoas que o encurralam cada vez mais. Nesses momentos nem sempre cumprimento os transeuntes desconhecidos. Pois bem, estava nesse mergulho quando ouço a pouca distância:
-    - Ma (mas) o que tu lê tanto guria?
- Uma voz com sotaque de dialeto italiano misturado com sotaque, de gaúcho da capital, parecia me conhecer há tempos. Levanto os olhos e não percebo ninguém conhecido. Uma senhora de certa idade,vem ao meu encontro, eu sorrio sem jeito:
-    - Estou lendo uma revista, gosto de ler!
-     - Ma (ma) todo o dia! - pergunta ela sorrindo com aquela pitada de dialetos!
  Procurei me defender, me senti inibida por estar cometendo tamanha, disse-lhe que as revistas eram emprestadas, que precisava lê-las logo para devolver. Ela sorria e arrematei contando que sou professora e que gosto de me interar dos assuntos.
-    - Ma, é sobre novela?
  Agora o pecado era maior, não eram fofocas de novelas! Disfarcei, quis esconder a capa, mas não teve jeito, ela espiou e viu:
-   - É, é sobre a natureza, os animais, eu gosto de ler! - me desculpei de novo!
   Ela me olhou com os olhos apertados, olhei para o final da rua. Respirei aliviada, a van estava chegando! Estava salva!

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