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terça-feira, 16 de agosto de 2016

Sustentabilidade e diversidade


Quando viemos morar no interior fiquei impressionada com dois enormes eucaliptos próximos a nossa moradia, gigantescos com tronco e galhos claros reinando nas alturas. De vez em quando alguma ave de rapina pairava nos galhos mais altos. Nos dias quentes e chuvosos brotavam cogumelos comestíveis por debaixo das folhas. Usávamos suas folhas para chá e infusão para problemas respiratórios. Essas árvores gigantescas deviam ter pelo menos uns 50 anos, sabíamos do seu crescimento rápido, por isso são preferidas para a industria de celulose, madeireira e moveleira.

Certa vez amigos entendidos nos alertaram sobre os perigos do eucalipto, principalmente quanto a absorção de água. O eucalipto é originário da Oceania. Por volta do século XIX alastrou-se para a Europa e o mundo todo, usado para drenagem de pântanos, já que consome uma grande quantidade de água. No Brasil chegou em fins dos anos 60, principalmente devido ao valor econômico, para a industria de celulose.
 O cultivo de árvores na forma de monocultura empobrece a terra, desrespeitando todas as formas de vida de um ecossistema.
 Floresta transitória de eucalipto, a terra em que brota logo estará nua, sofrendo de erosão,  com o corte das árvores para o mercado.






Os benefícios apregoados devia-se principalmente ao seu crescimento rápido e adaptabilidade a diversidade de climas. Estávamos na época em que a Revolução Verde parecia a grande solução para a fome da humanidade. O discurso ideológico da revolução verde apoiava as inovações tecnológicas na agricultura, silvicultura, envolvendo a utilização de agrotóxicos, mecanização do campo, sementes modificadas e destruição de florestas nativas para plantio de monoculturas de árvores de crescimento rápido. Buscava-se maior produção, a custa da destruição da diversidade, prejudicando tanto a flora, pois foram escolhidas algumas espécies consideradas milagrosas, (pinus, acácia, eucalipto), quanto da fauna, que não sobrevive nas monoculturas de árvores exóticas.

As primeiras experiencias foram exitosas, mas já de longa data sabemos dos resultados desastrosos em várias partes do mundo. Os mais prejudicados foram os pequenos produtores que se tornaram dependentes de fertilizantes, pesticidas e máquinas produzidas por multinacionais, não conseguem competir com as grandes empresas agrícolas, resultando em êxodo rural e endividamento.
A fome no mundo não foi solucionada, porém o consumismo aumentou exageradamente. Produções de grãos atendem principalmente a alimentação da pecuária intensiva, então a fome não é falta de alimentos, mas falta de recursos para adquiri-los. A água, outro problema sério que enfrentamos tem abastecido principalmente a irrigação da produção de grãos, que consome 70% da água doce no mundo. O setor da agricultura e pecuária intensiva também gera gases que aumentam o efeito estufa.

Segundo o livro de Vandana Shiva (indiana Ph.D em filosofia e ativista ambiental) “Monocultura da Mente” (Editora Gaia, 2003) a silvicultura científica, que brotou da Revolução Verde nasceu de interesses comerciais, reduzindo o valor da diversidade da vida das florestas ao valor de uma poucas espécies, ao custo da destruição de ecossistemas das florestas tropicais à uniformidade da linha de montagem, pois a fábrica serviu de modelo à floresta modelo, onde são eliminadas as árvores nativas, sem valor comercial, para a maximização dos lucros, sem respeito a diversidade, que é a base da estabilidade ecológica e social.


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